O sítio paleontológico de Tanis, na Dakota do Norte (EUA), tem revelado tesouros notáveis, e um deles foi exibido nesta quarta-feira (6 de abril): a perna fóssil de um dinossauro que, segundo cientistas, teria morrido no próprio dia em que, há 66 milhões de anos, caiu no Yucatán – a 3 mil quilômetros dali, o asteroide de Chicxulub, responsável pela extinção desses animais. A perna, perfeitamente preservada, apresenta até restos da pele de um tescelossauro, um dinossauro herbívoro cujo comprimento variava entre 3 e 4 metros, e pôde ser datada com precisão.
“É absolutamente louco”, disse Phillip Manning, professor de história natural da Universidade de Manchester (Reino Unido) e participante da pesquisa, ao programa Today, da BBC Radio 4. Segundo ele, a perna de tescelossauro descoberta em Tanis representa a “última coxa de dinossauro”.
Até hoje, pouquíssimos restos de dinossauros desenterrados registram até os últimos milhares de anos antes do impacto. Por isso mesmo, um espécime morto por causa do próprio cataclismo representa um achado espetacular.
Documentário da BBC
A BBC passou três anos filmando em Tanis para o documentário Dinosaurs: The Final Day with Sir David Attenborough. Narrada pelo naturalista e ambientalista britânico Sir David Attenborough e com transmissão programada para 15 de abril no Reino Unido, a obra vai apresentar e mostrar análises desses achados fósseis.
“Quando Sir David olhou para [a perna], sorriu e disse: ‘Isso é um fóssil impossível’. E eu concordei”, disse Manning. Segundo o professor, os pesquisadores também encontraram em Tanis vestígios de peixes que respiraram detritos do impacto do asteroide. Graças a esses materiais e outros detritos que caíram do céu por um período delimitado imediatamente após o impacto do asteroide, os cientistas puderam datar o local de forma muito mais precisa do que utilizando as técnicas padrão de datação por carbono.
O sítio de Tanis é um local extraordinário para a paleontologia. Ali, restos de animais e plantas parecem ter sido rolados em um depósito de sedimentos por ondas de água de rio desencadeadas por tremores de terra inimagináveis. Organismos aquáticos aparecem misturados com criaturas terrestres.
“Temos tantos detalhes nesse sítio que nos dizem o que aconteceu momento a momento, é quase como ver isso acontecer nos filmes”, disse Robert DePalma, pós-graduando da Universidade de Manchester (Reino Unido) sob supervisão de Manning que comanda a escavação de Tanis. “Você olha para a coluna de rocha, olha para os fósseis lá, e isso o leva de volta àquele dia.”
Animais escamosos
De acordo com a BBC, a equipe de pesquisa também encontrou restos fossilizados de uma tartaruga espetada por uma estaca de madeira e pequenos mamíferos e suas tocas, além da pele de um triceratops, de um embrião de pterossauro ainda dentro de seu ovo e do que seria um fragmento resultante do impacto do asteroide, na avaliação dos cientistas.
Ouvido pela BBC, o professor Paul Barrett, do Museu de História Natural de Londres (Reino Unido) e especialista em dinossauros ornitísquios (principalmente herbívoros), identificou a perna fóssil como pertencente a um tescelossauro. “É de um grupo de que não tínhamos nenhum registro anterior sobre como era sua pele, e mostra muito conclusivamente que esses animais eram muito escamosos, como lagartos”, afirmou. “Eles não eram emplumados como seus contemporâneos carnívoros.”
“Parece um animal cuja perna foi simplesmente arrancada muito rapidamente”, acrescentou Barrett. “Não há evidências na perna de doença, não há patologias óbvias, não há vestígios da perna sendo retirada, como marcas de mordida ou pedaços dela que estão desaparecidos. Então, a melhor ideia que temos é que este é um animal que morreu mais ou menos instantaneamente.”
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