Ganhar uma final de Libertadores atuando jogo praticamente inteiro com um jogador a menos é inédito. E o Botafogo conseguiu o feito ao conquistar o título sobre o Atlético-MG, em 30 de novembro de 2024, no Mâs Monumental, em Buenos Aires. Em entrevista ao “Charla Podcast”, Marçal contou bastidores da decisão.
O lateral, que entrou no segundo tempo no lugar de Alex Telles, classificou como “histórico não só para o Botafogo, mas para o futebol”. Além disso, enalteceu Gregore e Júnior Santos.
Leia o relato abaixo:
Entrada em campo
– Artur Jorge me chama e fala “o Hulk não pode chutar e não pode cruzar”. Eu frio. Bora lá. Na primeira ele traz para dentro e chuta. Eu falo comigo mesmo “Marçal, agora não pode mais, você tem que travar todas, se joga, mas não pode mais”. Graças a Deus deu certo. Realmente temos que tirar o chapéu para o Hulk, com a idade que tem, fez a carreira que fez e ainda faz a diferença, é um baita jogador. Fiquei feliz de ter ajudado o time. Foi uma responsabilidade grande, mas graças a Deus deu certo.
Duelo com Hulk
– Ele é muito chato, pô. Ele é mais reclamão. Na verdade, ele não fala muito com a gente, fala mais com o juiz. Pô, toda hora acaba irritando. Várias vezes ali ele tentou cavar uma falta. Se jogou de cabeça no Barboza, pra falar que o Barboza tinha atropelado ele e tal. Falei “cara, não foi nada. Levanta, pô”. Então, ele é um cara que pode incomodar. Até pra poder dar um pouco de vantagem aí nessa situação, o jogador que perde a cabeça com ele acaba se dando mal. Atropela, esquece. Então, pô, ainda bem que o Alexander Barboza estava em um dia maravilhoso. Pô, jogou pra caramba. Pra frente, pra trás, o Barboza estava demais. Mas o Hulk é um jogador chato pra caramba. Falaram “Marçal, pra frente está tranquilo. O Matheus Martins vai entrar agora. Tá fresco. Joga a bola nele. Mas pra trás, mano. Não deixa ele chutar. Não deixa ele cruzar. Se ele botar pra direita, vai. Se ele botar pra esquerda, vai”. Bora que vai dar certo.
Parte mental e confusão em jogo anterior com Atlético-MG
– A gente foi com a cabeça muito boa para esse jogo. A gente sabia que o que eles queriam era desestabilizar a gente. Era isso que eles queriam. Eu joguei com o Everson no Guarantiguetá há uma década atrás. Eu falei, “ô, irmão, isso não existe, você está demorando um minuto e meio para cobrar um tiro de meta”. Ele falou “Marçal, estamos fazendo o nosso jogo”. E, cara, eles não estavam errados, sabe por quê? Porque a gente estava vivendo um bom momento. E o Atlético, apesar de ter chegado nas duas finais, da Libertadores e da Copa do Brasil, não estava apresentando um grande futebol. Então, porra, estava fazendo um jogo de sul-americano mesmo, entendeu? De argentino. Fazendo cera para caramba. Depois entrou aquela confusão ali. O Deyverson é um moleque maneiro também, mas ele… O zagueiro do Atlético deu uma entrevista. Ele disse “cara, se ele me desestabiliza, eu que jogo no time dele, imagina o adversário”. É um moleque chato para caramba. Então você tem que entrar com a cabeça boa. E aí, depois daquela confusão, a gente conversou entre a gente. “Rapaziada, esquece essa porra aí. Vamos jogar. Vamos fazer o nosso jogo e por o nosso ritmo que vai dar certo”.
Estratégia após expulsão de Gregore
– Esse aí é o ponto. Foi uma situação foda, pô. Porque ele (Artur Jorge) perdeu o Gregore. Para jogar com um a menos, você podia perder todo mundo, cara, menos o Gregore, porque ele corre por dois. No primeiro momento, você faz o quê? O Danilo vai aquecer. Só que você vai tirar quem, cara? Aquele time. Aí você olha, você vai tirar o Savarino? Vai tirar o Almada? Vai tirar o Luiz Henrique? Vai tirar o Igor? Você vai tirar quem, mano? Cara, os moleques estavam bem para caramba. Só que, claro, na nossa cabeça, a gente pensando aqui, “pô, alguém vai ter que sair, porque a gente está sem volante defensivo”. Então, o nosso primeiro momento foi tipo assim “E agora? O que o Artur vai fazer? Foda. A gente perdeu um homem, mas vamos lá. Agora, o que o homem vai fazer?” Então, os primeiros minutos ali, a gente estava tentando não assimilar aquilo que vai ser o jogo de dez contra onze. A gente estava pensando o que o homem vai fazer. Alguma coisa tem que ser feita, pô. Entendeu? A gente estava conversando. Eu, o Allan, o Carlos Eduardo. E o Danilo aquecendo. Daqui a pouco, o Almada roubando a bola lá na ponta, lá na lateral, ajudando o Telles. Aí, daqui a pouco, o Luiz Henrique trabalha sempre muito bem, está tranquilo. Savarino, que, pô, é o cara que caminha mais no meio, jogador mais de espaços e tal, começou a trombar. A gente pegou e olhou. Falou “cara, está legalzinho o jogo”. Ele falou “eu acho que a gente consegue aguentar 45 minutos. Ou talvez… Vamos ver como é que vai acabar isso. A gente vai aguentar”. Depois faz um gol, era bom momento para colocar o Danilo no jogo, ele é animal na marcação. Aí 2 a 0, jogando bem. O Atlético sem chances claras. Nunca passei por isso, acho que ninguém passou. O que fizemos foi histórico não só para o Botafogo, foi histórico para o futebol. Fizemos um jogo do caramba, chega até a arrepiar.
Reação de Gregore
– O Gregore deu uma entrada muito forte, mas o maluco baixou muito a cabeça, pensamos “o juiz não vai acabar com o espetáculo, ficamos com essa esperança”. Quando deu o cartão vermelho, falei “fodeu”. Eu fui expulso contra o Corinthians, é um sentimento de merda. Quando o Gregore sai com um minuto, nunca ninguém tinha ganho uma final de campeonato com um jogador a menos em tanto tempo. Então, eu fico imaginando o que passou na cabeça dele, cara. Só que, assim, a gente devia isso para Gregore.
nA gente devia. Na verdade, a gente é um grupo tão maneiro, que tudo que acontece no grupo a gente percebe que ninguém deve nada para ninguém. A gente está todo mundo de mãos unidas mesmo e vamos que vamos. Mas eu acho que pela maneira que a gente fala, você está no jogo, o Gregore está roubando uma bola lá na frente. Daqui a pouco, coisa de segundos, ele está recuperando uma bola lá, fazendo cobertura do lateral. Como eu falei aqui, ele corria pra dois. Não era o contrário. Mas eu acho que a gente devia isso para ele. Tipo assim, se unir e ir, porque se ele estivesse aqui, ele ia desdobrar, entendeu?
– Encontrei ele só no final do jogo. Eu não lembro de ter visto ele no intervalo. A gente entrou feliz, obviamente, tava ganhando o jogo. Com certeza ele estava no vestiário, com certeza. Se eu o vi, provavelmente fui lá dar um abraço nele, mas não me lembro. A emoção estava tão tensa que eu nem me lembro. Mas lembro no final. No final, todo mundo se emocionou com ele. Porque a gente é atleta, a gente se coloca. E, porra, eu acho que foi muito merecido esse gol contra o São Paulo. Não sei o que vai vir mais pra frente, mas, o Gregore é um dos melhores trincos, que a gente costuma falar na Europa, que eu já joguei. Trinco é o primeiro volante. É o melhor primeiro volante que eu já joguei. Ele é incansável, cara. O Gregore eu acho que merece muito a Seleção. Merece muito. E não é só uma não. É duas, três, aí para perceberem que é o Gregore mais dez. Sem exagero.
Gol de Júnior Santos
– Na verdade foi um alívio para mim. Foi o carimbar de tudo que a gente fez. Porque a gente jogou pré-Libertadores. Júnior fazia os gols para caramba na pré-Libertadores. Ele se consagrou ali artilheiro, contando tudo isso, porque ele foi super importante na pré-Libertadores. Ali foi um alívio, porque o jogo estava puxado, estava 2×1. Tem aqueles lances do Vargas. O jogo estava tenso. Quando eu entrei, o time estava ganhando, né? Porra, se empata ali, prorrogação. O time estava correndo com 10 jogadores. Porra, quando ele faz aquele gol ali, foi um misto de emoções. Foi um alívio, porque estava acabado o jogo, e uma alegria gigante, porque esse moleque merece. Merece para caramba.
Volta por cima de Júnior Santos
– O Júnior teve uma fase no clube que ficou um pouco desacreditado. E a gente vê que é um moleque que alegra o vestiário. É um moleque maneiro para caramba. Figuraça. O moleque é sensacional, é sensacional. E ele passou um período ali meio cabisbaixo e tal. Eu sou esse cara que também observo e tal. E a gente uma vez teve uma conversa depois do treino. A gente só tava nós dois ali no clube. O Júnior tem uma maneira de jogar e você não pode pedir muita coisa pra ele. Não que ele não vai entregar, mas ele não vai ser o Júnior que a gente conhece. Se começa a dar muita informação para o Júnior, ele é um cara maneiro, vai tentar fazer. Ele vai tentar agradar o treinador. Só que ele não consegue render. Entendeu? Ele não consegue render aquilo que ele pode render. É aquele jogador que pela ponta, irmão, você pode dar a ponta inteira para ele. Que ele vai correr aquilo ali. E ele é um cara que você tem que dar moral. E eu cheguei e falei, “irmão, com todo respeito, no vejo aqui, no nosso lado direito, ninguém melhor do que você. Não vejo ninguém melhor do que você. O treinador pode ter uma opinião. A minha opinião é que não tem ninguém melhor do que você aqui. Então, irmão, levanta a cabeça. Levanta a cabeça porque você é o titular da direita”. Na época era o Victor Sá que ainda estava na esquerda, ele e o Luis Henrique”. Aí ele “pô, Marçal, obrigado e tal, não sei o que mais”. A gente ficou ali meia hora na resenha. Tanto que depois de um tempão, ele falou, já vivendo um bom momento, “Caralho, Marça, você foi foda, velho”. Então, foi um negócio que foi maneiro para ele. Realmente ajudou ele para caramba, entendeu? E ele é craque.
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