05/02/2025

Bocudo Caldas

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‘Ficava constrangida em blitz’, diz muçulmana do DF que conseguiu direito de usar véu em foto da CNH










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Rihab Sad havia sido impedida de renovar documento com foto na qual usava lenço islâmico. Muçulmanas só podem ficar sem hijab na frente de outras mulheres, do marido ou familiares. Muçulmana conseguiu na Justiça do DF o direito de usar o véu na foto da CNH

“Não é um hobby. Faz parte da minha vestimenta, de quem eu sou”, explica Rihab Sad, muçulmana que mora há 20 anos em Sobradinho, no Distrito Federal. Descendente de palestinos, Rihab é brasileira e travou um embate judicial no último ano para ter o direito de usar o hijab – lenço tradicional da religião que cobre parte da cabeça e do rosto – na foto da carteira de motorista.

Após ficar um ano sem dirigir, a muçulmana conseguiu na Justiça do DF o direito de usar o véu na foto do documento. Casada e mãe de três filhos, Rihab conta que toda a família segue o islamismo e a filha mais velha também usa o véu, que significa “temor a Deus” e a faz se sentir “pura e completa”. Ela foi impedida de renovar a CNH porque uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) diz que o “condutor não poderá estar utilizando óculos, bonés, gorros, chapéus ou qualquer outro item que cubra parte do rosto ou da cabeça”. Na primeira versão do documento, ela aceitou ficar sem o lenço porque a foto foi tirada por uma mulher. “Eu me sentia muito constrangida quando era parada em blitz e um homem pedia para ver minha foto. Eu me sentia muito mal, sem o véu a gente está em pecado.

“Eu só mostrava porque era uma autoridade, mas até o agente de trânsito ficava desconfortável e ainda não me reconhecia sem o véu”, conta a muçulmana. Rihab foi impedida de renovar a CNH porque se recusou a tirar o véu tradicional da religião islã. Depois de uma série de constrangimentos, ela procurou a Defensoria Pública e entrou com a ação contra o Departamento de Trânsito do DF (Detran). A juíza responsável pelo caso decidiu que a vedação afronta o direito à crença religiosa. O Detran informou que vai acatar a decisão, mas isso não vale pra outros processos administrativos. Agora, Rihab espera servir de inspiração para outras pessoas buscarem o mesmo direito. A muçulmana já possui carteira de identidade, carteira de trabalho e passaporte e, em todos esses documentos, a foto de identificação foi feita com o hijab.

” Minha vestimenta não é pra chamar a atenção, eu uso para Deus. Minha religião me completa em tudo, é como se fosse as minhas pernas. Rihab diz que tem amigas muçulmanas que perdem oportunidades de emprego por causa das vestimentas e acredita que muitas pessoas ainda enxergam o islamismo apenas com o estereótipo de guerras ou terrorismo. “As pessoas passam uma imagem muito ruim do islã, só olham o lado negativo. O islã é paz, não temos direito de tirar a vida de ninguém”, afirma. Rihab Sad e o marido, Sami Sad, são donos de uma loja de roupas em Sobradinho.

Sob supervisão de Maria Helena Martinho