21/01/2025

Bocudo Caldas

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Firme, contundente e surpreendente: como o mercado recebeu a alta da Selic










Economistas, gestores e especialistas consultados pela reportagem, entendem como positiva a postura mais agressiva do BC na decisão de alta do juros. Na noite desta quarta-feira, o Comitê de política Monetária que elevou em 1 ponto percentual a taxa básica de juros e, em seu comunicado,  destacou que prevê mais duas altas da mesma magnitude nas próximas reuniões, o que pode levar a Selic a 14,25%.

“O Banco Central responde de forma contundente à desancoragem de expectativas, reafirmando seu compromisso com a meta de inflação. É uma decisão que tende a ser bem recebida pelo mercados pelo compromisso com a meta”, diz Natalie Victal, economista chefe da SulAmérica Investimentos.

Na avaliação de Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, a decisão desta quarta-feira, 11, deve contribuir “para o processo de recuperação da credibilidade do colegiado e dar um alívio para os agentes do mercado financeiro”, afirma.

O aperto monetário demonstra, na visão de Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez,  humildade por parte do BC em reconhecer que “estava atrasado”. Mais importante, mostrou capacidade de reação e adaptação, recuperando as rédeas da condução de política monetária e retomar o forward guidance de maneira a sinalizar mais altas neste ritmo à frente”.

A postura  dura – ou hawkish, no jargão do mercado – foi mais firme do que o esperado,  na análise de Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos. “A decisão envia um sinal claro de que o Banco Central está disposto a enfrentar a rápida deterioração do quadro econômico, causada por fatores tanto externos quanto, principalmente, internos”, diz.

Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos  diz que a decisão foi surpreendentemente positiva. “Com essa decisão, o Banco Central se mostra firme no propósito de fazer a convergência da inflação para a meta e se mostra à frente do mercado, não estando mais atrás da curva”, afirma.

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master,  também destaca que a decisão “duríssima” não deixa dúvida do compromisso do Banco Central em controlar a inflação  “Ninguém tinha na conta um choque tão violento de 3 altas de 1%”. Ele destaca também a revisão da projeção de inflação. “No cenário de referência divulgado pelo BC, a inflação do horizonte relevante, que é o primeiro trimestre de 2026, já vai em 4%, portanto bem acima da meta de 3% e para 2025 é de 4,5% e para esse ano 4,9%.”, diz

Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos,  diz que a revisão da projeção foi “surpreendente”. “ Nós estamos falando em uma taxa de juros terminal de 14% para um IPCA de 4%, juros reais na faixa de 10%. Isso só vem corroborar aquilo que a gente já vem dizendo, que a condução das expectativas fiscais pelo governo completamente desancoraram a política monetária”, afirma.

Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais m afirma  que para  ancorar as expectativas de inflação que saíram dos trilhos nos últimos meses,o Copom preferiu dar um “choque” de alta de juros. ” Para evitar que esse cenário tenha que se perpetuar por mais tempo lá na frente”, diz.

Cristiane Quartaroli economista chefe do Ouribank, entende que o resultado pode ser positivo para o dólar nesta quinta-feira, 12.  “O nosso diferencial de juros ficará mais atrativo para o ingresso de fluxo de capitais. Contudo, acho que vale destacar que parte desse movimento já pode ter sido antecipado pelo mercado e, além disso, a gente tem outros fatores como a questão fiscal e, agora, a saúde do presidente que podem trazer volatilidade para os ativos brasileiros”, diz.

A alta da Selic reafirma que a prioridade do Banco Central continua sendo a estabilidade de preços, avalia Bruno Carlos de Souza, CEO da Souzamaas. “Isso é positivo em termos de credibilidade, mas também acende um alerta para a possível desaceleração econômica”, diz. Segundo ele, a alta dos juros e o consequente encarecimento do capital indicam que o próximo ano será marcado pela necessidade de maior prudência por parte das empresas. “As empresas devem adotar estratégias conservadoras, revisando planos de investimento e fortalecendo caixa para enfrentar a incerteza”, diz.